sábado, 4 de abril de 2015

Intoxicação por Chocolate em Pequenos Animais.

Texto por Liziane Jardim.




Figura 1
O chocolate contém dois compostos tóxicos para os animais, que nada mais são que duas metilxantinas: a cafeína e a teobromina. E, dependendo do tipo de chocolate suas quantidades podem variar (ver tabela 2.1). Como são substancias encontradas no cacau, que é a matéria prima do chocolate, os níveis de teobromina, por exemplo, serão muito mais elevados em chocolates do tipo amargo. Ao passo que, chocolates com altos teores de lipídios como os brancos oferecem menores riscos de intoxicações.

Fonte: Gfeller, Roger W. et al – Manual de Toxicologia e Envenenamentos em Pequenos Animais – 2ªedição. São Paulo: Roca, 2006. pág 185.

Dose letal: 100–200mg/kg. Porém, a dose tóxica é dependente também de outros fatores como: porte do animal e sensibilidade à teobromina; e, o tipo de chocolate. Pois, quanto maior o teor de cacau contido, maiores serão as chances de intoxicação. Logo, a dose letal pode variar para mais ou para menos.  
Epidemiologia: Geralmente as intoxicações ocorrem em animais jovens e de pequeno porte. O primeiro por conta da curiosidade de ingerir alimentos novos e o último em vista de que a quantidade ingerida será proporcionalmente maior do que o animal. Os casos de intoxicação ocorrem principalmente em épocas de páscoa e natal. Ou quando os animais tem acesso a este tipo de alimento.
Figura 2: A intoxicação em animais jovens tem uma maior prevalência.

Patogenia: a teobromina inibe a fosfodiesterase resultando em um aumento de adenosina monofosfato cíclico (AMPc) e de catecolaminas. Estas que exibem efeitos excitatórios no sistema nervoso central estimulando o aumentando da respiração e da atividade psicomotora. Além disso, estimulam os músculos lisos levando a um aumento dos batimentos cardíacos e da força de contração. 
Sendo uma metilxantina, composto altamente lipossolúvel, a teobromina consegue atravessar a barreira hematoencefálica e placentária com facilidade, além de ser rapidamente absorvida pelo trato gastrointestinal chegando à corrente sanguínea. Porém, uma vez no sistema nervoso central acaba competindo com a adenosina (inibidor pré-sináptico neuromodulador) desencadeando grande excitação e agitação no animal.  Além disto, esta substancia provoca aumento do trabalho dos músculos cardíacos (pois atua aumentando a entrada de cálcio nas células cardíacas) que associados à estimulação cerebral podem ocasionar arritmias graves em cães. 
Metabolização: A teobromina possui metabolismo hepático o que lhe dá a característica de possuir uma meia vida relativamente longa no organismo, permanecendo por horas a dias: cerca de 17 horas a 6 dias. Como pode permanecer por dias no organismo, a intoxicação pode não ser imediata, ou seja, doses ingeridas repetidamente em dias consecutivos podem ocasionar um efeito cumulativo da teobromina. E, os sinais clínicos podem, portanto surgir mais tardiamente.
Sinais clínicos: podem iniciar em cerca de 6 a 12 horas. Segundo Gfeller, observa-se leve aumento na pressão sanguínea (hipertensão), taquicardias, arritmias no miocárdio, nervosismo, excitação, tremores, convulsões, respiração ofegante e até mesmo coma. Quando a intoxicação for aguda, o animal pode morrer dentro de 6 a 24 horas e na forma crônica a morte se dá em alguns dias em decorrência de insuficiência cardíaca. Menos comumente, pode ocorrer bradicardia.
Tratamento: Não existem antídotos para a teobromina, portanto, o tratamento é voltado a manter os sinais vitais do paciente combatendo os principais sinais clínicos. Se a ingestão for recente (de 4 a 6 horas) é possível utilizar fármacos que provoquem emese ou realizar lavagem gástrica com água aquecida para retirar o chocolate derretido.  Segundo Gfeller, o carvão ativado pode diminuir o tempo de meia vida da teobromina. É importante também, sondar a bexiga e sempre mantê-la vazia para evitar que a teobromina seja reabsorvida. Realizar tratamento de suporte com fluidoterapia e oxigenoterapia. 
Diazepam: indicado para diminuir as convulsões, ansiedade e tremores. Caso não surta efeito, é possível utilizar os barbitúricos como substitutos (como fenobarbital seguido de propofol).
Atropina: para tratar a bradicardia.
Lidocaína, metoprolol e propranolol: para tratar a taquicardia.
Evitar o uso de eritromicina e corticosteroides pois, estes interferem na eliminação das metilxantinas.
Profilaxia: A melhor forma de evitar a intoxicação por chocolates em cães é sempre mantê-los afastados deste alimento. E nunca oferecê-lo aos animais, pois mesmo em pequenas quantidades, dependendo da susceptibilidade, pode haver chance de intoxicação.
Figura 3



  

REFERÊNCIAS
Gfeller, Roger W. et al – Manual de Toxicologia e Envenenamentos em Pequenos Animais – 2ªedição. São Paulo: Roca, 2006.

IMAGENS
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