domingo, 8 de fevereiro de 2015

Intoxicação por Cebola em Cães e Gatos.

As intoxicações por alimentos já podem ser consideradas algo comum na clínica. Infelizmente, ainda são negligenciadas, subdiagnósticas  e muito pouco relatadas. Devido a esse fato dados de prevalência dos diversos tipos de intoxicação e a sua real porcentagem nos distúrbios do trato gastrointestinal, na clínica, não são conhecidos.
Existem várias formas intoxicação por alimentos, sendo talvez as mais comuns a intoxicação por chocolate e a por cebola, que é o assunto que será abordado no blog hoje.
A intoxicação por cebola é muito relatada em diversos artigos pelo mundo afetando várias especies.
Figura 1


A cebola (Allium cepa), assim como o alho (Allium sativa). pertencem ao gênero Allium e sua familia, na maioria das especies, é a Alliaciae (Wikipedia).
Etiologia, principio tóxico e dose tóxica: a intoxicação ocorre quando os animais consomem a cebola contendo altos concentrações de dissulfeto(Gfeller,2006). A dose tóxica vária entre cães e gatos. Nos cães há uma discordância entre a bibliografias consultadas em relação a dose tóxica. Segundo Roder 2002, a dose tóxica é de 5,5g/Kg. Já Giannico 2014,relata que a dose tóxica que irá gerar alterações hematológicas significativas nos cães está entre 15g/Kg e 30g/Kg. Em gatos a dose necessária para intoxicar vária entre 5g/Kg e 10g/Kg(Fighera,2002 ;Giannico,2014).
Epidemiologia: cães que consomem alimentos com cebola e reviram lixo. Gatos que consomem alimentos industrializados para bebes.
Mecanismo de Ação: os dissulfetos agem na membrana da hemoglobina levando a uma lesão oxidativa(Gfeller,2006). Segundo Giannico 2014, a cebola causa uma interferência na regeneração da glutationa, que é essencial para evitar a oxidação da hemoglobina. Assim, há a formação de corpúsculos de heinz, metemoglobina e anemia intravascular e extravascular(Gfeller,2006; Giannico, 2014).
Sinais clínicos: Segundo Fighera 2002, em gatos pode-se dividir em duas formas. Após 9 horas de consumo sinais como: mucosas pálidas, normotérmicos, taquipneicos e taquicárdicos. Já após 48 horas os animais tem uma taquicardia e taquipneia com menor intensidade, mucosas pálidas, podem ter hipotermia e urina escura. Segundo Giannico 2014, de uma forma geral para todas as especies os sinais clínicos iniciais são vômitos, diarreia, perda de apetite , depressão e dor abdominal. Após alguns dias há o aparecimento letargia, fraqueza, mucosas pálidas ou ictéricas, hemoglobinúrias, sinais característicos de anemia.
Figura 2: Cão com mucosa ictérica.
Achados laboratoriais: é encontrado no hemograma: linfopenia, anemia hemolítica com corpos de heinz, neutrofilia, metemoglobinemia (Giannico, 2014).
Achados de necropsia: esplenomegalia moderada a acentuada e sangue marrom (Fighera, 2002).
Figura 3: Fonte: Fighera, 2002.

Histopatológico: pode ser visualizado hemossiderose e hematopoese no fígado e baço (Fighera, 2002). Necrose centrolobular pode ser visualizada com menor frequência.
Tratamento: quando a ingestão é recente pode ser induzida a êmese. A utilização de carvão ativado para redução da absorção dos dissulfetos e percursores da glutationa para ajudar a evitar a oxidação da membrana. Em casos mais graves com uma anemia severa pode ser feito transfusão sanguínea (Gfeller,2006).
Figura 4: Carvão ativado. medicamento utilizado para absorção de toxinas.

Referências

FIGHERA, Rafael A. et al . Intoxicação experimental por cebola, Allium cepa (Liliaceae), em gatos. Pesq. Vet. Bras.,  Rio de Janeiro ,  v. 22, n. 2, Apr.  2002 . 
GIANNICO, Amalia Turner, et al. Intoxicação por Alimentos. Vol. 10, No 1 (2014): Colloquium Agrariae. DOI: 10.5747/ca.2014.v10.n1
GFELLER, Roger W. et al. Manual de toxicologia e envenenamentos em pequenos animais. São Paulo: Roca, 2006. 
RODER, Joseph D. Manual de Toxicologia Veterinária. Multimedica editora veterinária, 2002.

Imagens
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